Quando disseste "mamã"
São só duas sílabas. Mas quanto cabe dentro delas? Uma imensidão de esperança. Um infinito de gratidão. Significa que me conheces, que me chamas, que entendes o poder e o amor da linguagem. Mamã traduz “sei quem és”, “preciso de ti”, “amo-te”. Dizer mamã significa que as hemorragias que tiveste ao nascer, o oxigénio de que tanto precisaste, as anestesias gerais que recebeste, não destruíram as nossas esperanças. Significa que poderemos vir a conversar... que me vais contar o teu dia na escola. Que me vais contar segredos que eu guardarei só para mim. Que vais dizer-me onde te dói para eu dar beijinho. Que me contarás como te sentes nos teus dias mais escuros. Que me perguntarás muitos porquês na tua maravilhosa descoberta do mundo e e partilharás comigo as tuas aventuras. Poderemos dividir uma história quando cair a noite e partilhar os teus sonhos quando amanhecer. E um dia engolirei as lágrimas quando escreveres o teu nome num postal do dia da mãe. Tudo isto ainda não é real. Pode até ser sonhar demasiado alto. Mas não há tecto nos sonhos de uma mãe. E quando tu disseste “mamã”, o céu de possibilidades abriu-se. São só duas sílabas... Mas quanto cabe dentro delas...? Eu e tu. E o mundo inteiro entre nós dois.
Carla Almeida (carlacintraoalmeida@gmail.com)